Aprendi



Aprendi a não esperar por ti.
Distraída de tudo,
caminhando pelas ruas,
um sonhar acordado  falando baixinho
sem ninguém ouvir.
Ninguém ouve.

Aprendi a não esperar por ti.
Sequiosas as memórias
que me fazem parar emudecida
no arrogante  e sombrio sorriso  
dos olhos que não vêm.
Ninguém vê.

Aprendi a não esperar por ti.
Desertas as pedras
negras da calçada íngreme do destino
desenho os versos que mente silencia 
e vozes choram...
Choramos todos.

Aprendi a não esperar por ti.
Foi o choro que mais doeu.



(de mim ....em silencio)










ACABADO DE NASCER....













ACABADO DE NASCER.....




Desprendeu-se o dia 

do galho da alvorada....



... e veio a luz tocar

os olhos da madrugada.




Não sei quem trouxe
a brisa que chegou mansa....

Um fôlego?,

Uma respiração?.

Um suspiro?... 




Talvez o segredo desamparado

debruado a flores de doçura


Talvez a sombra do silêncio

entrando no poema a levantar-se....



Não sei quem trouxe

a brisa nua que passou ligeira

e leva consigo as pétalas de um sorriso

acabado de nascer.....

- lento, inquieto, branco, obstinado? 


...De coração fatigado!





De mim em silêncio

À VOLTA DE UM COPO







À   VOLTA DE UM COPO





Um pacto brilhante ,
rasgado, quase louco...
os sentidos apurados
os excessos ...
Descidos á cidade
com um copo de permeio
a separar-lhes o hálito,
e o olhar,
que de mãos dadas
sorri por um tudo nada.
O rosto reconhecia
no copo ali,
no cigarro acolá
um passado sem história ,
tão distante.
Uns passos de dança inventados
no copo que os dedos trémulos sustentam,
a dança insinuante de um pedido
pendente no travo de um gole.
O rigor do tempo...
e da a postura dos ombros ,
os sonhos partilhados , os segredos, os amores...
...à volta de um copo....
Um copo poisado  na mesa
entre dois corpos...a planar
na viagem do reencontro,
entre  passado e futuro,
sem presente....



De mim.... neste silencio cúmplice que me cativa...





CULPA!



CULPA


Culpas tenho muitas...! 
Desculpas peço muito...!
E não me pesa a culpa que transporto
se desculpa peço da culpa que tenho
Mas olho a vida de frente ,
olho para trás e aprendo,
olho para a frente e sonho
e assumo o que sou....  
sem mais mais, nem menos... 





(  de mim....!   )

Memórias de um dia cinzento....














 

A cidade que fiz minha sem querer ,
não querendo,
tem o nome molhado de saudades de uma outra cidade,
perdida algures para lá da memória e sem idade.
Quisesse eu ver-te e esboçaria mil sorrisos.
Um sentimento sem igual
às margens de uma ilusão que sei ser minha.
Não sei sonde estou....
Um amanhecer cinzento,
quase outonal este nascer do dia despido de brilhos....
recheado de contratempos pregados ao sentir....
Há dias assim...carregados de brumas, ...
algumas frias.....
Ausentados de nós
reflectindo na existência que nos cerca
enrolados vamos nos dias quase sem história..
Não há brumas entre nós....
há um lapso de tempo...
um tempo de silencios introspectivos
para encontar  a voz do pensamento,
a veia e o pulsar do sentir...

De mim....





A COR DO SONHO

Era muito cedo, noite ainda.
 Ele estranhou o silêncio que nascia por entre o arvoredo denso , como se fosse uma sombra acompanhada de múltiplos ruídos. A bruma , cercava-o de um branco translúcido, imaterial, quase luminoso, tantas as gotículas suspensas e húmidas, reflectindo o brilho das últimas estrelas que se esforçavam a atravessa-la com luz . Enquanto metia as mão nos bolsos , e os ombros se vergavam para diante aconchegando a nuca ao calor do casaco grosso que o cobria abaixo dos joelhos, os olhos procuravam no ar denso de cristais , um qualquer sinal. Não era a primeira vez . Há muito que sentia tentado a penetrar no seu interior ,desvendar-lhe o núcleo misterioso, como se a dança que se desdobrava em formas abstractas , e se dissipava no ar em farrapos , o seduzisse como um abismo. Via-a naquele traje transparente, sedutor, enigmático no seu silencioso esvoaçar . Sentia-a como um levíssimo peso denso sobre os seus ombros. Sentia-lhe o respirar, o aveludado da pele, o algodonado pairar, o odor húmido dos lábios. e os olhos negros molhados de água , encerravam-se por detrás de pálpebras semi-fechadas de agua . Ele, avançava cautelosamente sobre solo traiçoeiro que o escuro encobria, estendendo os braços carentes à imaginação do sonho que deambulava esquivo, na asas da aragem. Tocou-lhe os cabelos líquidos, o corpo esvoaçante que se desfazia e refazia em movimentos ondulantes deslizantes, formas caleidoscópicas intermináveis sob os sentidos do olhar. Sorriu languidamente húmida, aos primeiros raios de sol e esquivou-se por entre as folhas que projectavam no solo pequenas sombras trémulas. O pulsar do coração pairou por algum tempo ainda sobre as copas das arvores , para se dissipar por completo ao canto matinal de uma ave .
 ( De mim....)

Coisas de NOVEMBRO

   A MULHER DAS CASTANHAS







Envolta na neblina matinal vinda do mar, já a mulher das castanhas apregoa : - Quentinhas !
Está ali, naquela esquina do tempo, que dobro desde sempre, desta vez a uma hora bem diferente num dia também diferente.     De olhos postos nas nuvens de fumo que se elevam dos tachos e rodopiam no ar, ela, a mulher de cabelo apanhado num carrapito desgrenhado, mexe e remexe com as mãos ásperas , dedos enegrecidos e unhas roídas, as castanhas quentes nos assadores assentes na velha carripana, tão velha , que meia empenada tomba para um dos lados, mais parecendo cair que manter-se de pé.    E lá vai apregoando, enquanto me perco nas nuvens de fumo revoltas e densas como aquele nevoeiro em que adormeci de cansaço nos braços do cansaço da noite.    Por entre as nuvens dou comigo a caminhar sobre os vincos e as rugas da cidade, os vestígios que sobram dos lençois esquecidos, desfeitos num qualquer quarto vazio onde a respiração lhes deixou o aroma da noite. Abraço as nuvens com as ambas as mãos até as sentir coladas à pele.    Respiro por entre cada um dos seus poros e os seus olhos de água transpiram um prazer húmido com as olheiras que me sorriem até ao amanhecer
. A mulher das castanhas, a fazedora de nuvens que sobem cada vez mais alto na madrugada , esquecida de mim , lá vai ateando as brasas das cinzas esfriadas na noite passada. -Quentinhas...
Desço degrau a degrau os socalcos das nuvens que a permanência do tempo esfarrapou e envolta nas nuvens densas de fumo que se erguem ao meu lado carregadas de aroma a castanhas novas acabadas de estalar ao calor das brasas, desço a escadaria para voltar a pisar os vincos e as rugas da calçada da cidade . Longe, o som da voz da fazedora de nuvens, continua: -Quentinhas.

(De mim...)

Rochedo





Jovial , como um dia acabado de nascer..
Algures uma melodia matinal,
acordes de um cântico interior
caminhando leve, transportado pelos ares 
numa cadência languida de um sorriso gasto.....

Quando a encosta da alma se escarpa
e a vegetação do sentir escaseia.
o rochedo ergue-se nu...
quão vulnerável às intemperies do tempo
quão fràgil ao rendilhado das lagrimas...

Solitário é  o caminho....
A curiosidade debate-se  ferozmente 
no cansaço assumido ao olhar numa imensa lassidão
com a didignidade e solenidade de um poema
que se escuta por entre as fibras da suadade.

O dia fragmentado de incerteazas...
abreviado artificialmente nas gotas de orvalho 
deslizando por entre os dedos crispados de dor
manten-se  erecto , nu  como se continuasse
eternamente a contemplar a solidão...


(de mim)

em silencio...




Breve o Instante de um momento



 Foto: Breve o instante...
o momento do poema!
Este,  que contido no peito
 se solta em versos quebrados .
Um só momento....
O instante breve  da leitura
das mãos que escrevem...com emoção,  
 a ternura de um sentimento sem sentido....

Apago as cores do ar.
 É a cor do vento que me traz
 novas deste gostar  ainda menino....
Tão confuso,... tão estranho...
que me interrogo se sonho,
ou  se  é  ilusão o meu gostar....
 E porque os há de muitas formas,
 e tantas cores ....
 para lhe sentir a forma,
apago as cores da minha forma de amar...


( de mim)




Breve o instante...
o momento do poema!
Este, que contido no peito
se solta em versos quebrados .
Um só momento....
O instante breve da leitura
das mãos que escrevem...com emoção,
a ternura de um sentimento sem sentido....

Apago as cores do ar.
É a cor do vento que me traz
novas deste gostar ainda menino....
Tão confuso,... tão estranho...
que me interrogo se sonho,
ou se é ilusão o meu gostar....
E porque os há de muitas formas,
e tantas cores ....
para lhe sentir a forma,
apago as cores da minha forma de amar...


( de mim)

Quase me apeteceu escrever










Quase me apeteceu escrever....

Compreendi então...
quão cerrado o mundo esquecido de mim
quão tamanhas as margens do meu rio
quão pequenos , carregados e frios
os dias desfeitos num soluço fundo

Compreendi então...
quão limpido e louco o relógio da memõria
que a compasso do vento da alma
marca os segundos da viagem
num sussuro de saudade.

Compreendi então...
o mistério do movimento perpétuo do sentir
que em forma de manha de nevoeiro
se dissipa da palma da razão 
no desejo encerrado de uma  mão de amor.



(de mim num anoitecer de verão)

Quando a saudade desce a escada







Quando a saudade desce as escadas.....


Quando a saudade desce as escadas,
há sempre um fogo surdo lá no fundo
e um abraço de espuma tão fria....

Quando a saudade desce as escadas,
a noite trepa a escarpa indecifrável
das cinzas que pintam de negro o dia.

Quando a saudade desce as escadas,
escrevo,....rescrevo, demoro na lentidão
do sentir embrutecido no fundo das mãos.

Quando a saudade desce as escadas
a ideia de paraíso á e cicatriz do desespero
e o poema que se eleva é apenas mais  um capítulo

Enceram-se-me os olhos. solta-se-e um suspiro...
e quando a saudade desce a escadas
afogo-me no seu mar imenso , infinito...


Choro 
Não sei fazer mais nada
quando a saudade desce as escadas!



A Morte









A Morte....

Pela porta entreaberta 
entraste silenciosa
E deslizando sobre a penumbra chegaste perto...

Estendeste os braços 
como quem quer dar colo
mas nem sequer com as mãos tocaste.

Fiz-.te frente com olhar
na distancia que nos separava...
Inquieto, indignado , surpreso,
triste talvez, o meu olhar 
ou tão somente vencido..
...nem sei!!.

E tu, 
rodopiando sob o teu manto negro que vi branco, 
saíste cabisbaixa por onde entraste.....
Ate quando?...


(de mim....numa noite comprida )



As palavras são mentiras!





As palavras são mentiras!
Espalham.se como folhas secas sopradas pelo vento norte.
Deslizam como água entre os penedos edificados da  verdade
Caem em terra seca como grão que não germina, 
e cantam os versos inacabados dos poemas por escrever

As palavras são mentiras!
Orgulhosas ferem a escuridão suplicante de luz
Desvairadas apunhalam a costas da alma no sonho distraída .
Calmas deixam o rasto da indiferença sulcado no frio do olhar
e falsas riem como hienas esfomeadas num noite sem luar.

      As palavras são mentiras!...
       ...que o silencio inventa..
           acalmando a dor estagnada 
         na imensidão de um ser!


                                                                                ...

Degraus do tempo




                                                                       

 Degraus do tempo



Saí da obscuridade...
...não do sono, 
algo mais vasto e reconfortante,
o negro da inconsciência  deliberada....
...talvez a noite que antecede o despertar.

Lá fora chove , 
lençoís de água escorrem de um céu safira 
a mergulhar na quietude de um amanhecer.

Árvores tocadas pela prismática luz,
 esqueletos dançantes aos pares...
braços  erguidos  ao céu.

Brota de um punhado de sementes
o brilho suave da dúvida dorida,
lamentações e  queixas de uma discução fútil
perdida ente peónias caleidoscópicas,
túlipas negras e caules cor de malva,
descendo os degraus humedecidos 
das palavras não acreditadas.....

Sempre quase um silêncio, 
parcimónia minha , próxima da avareza
quase timidez....
Uma miscelânea de sons insolentes...
A voz da minha voz calada.


.....









DESALINHADA...

.
 Desalinhada....




..."cabelos em desalinho...."
o grito selvagem de quem sonha,
comanda, e vive a paixão
a rebeldia de quem vence depois de ter perdido
o encontro desencontrado de um olhar vivido
...".cabelos em desalinho"...
desalinhada a linha recta que faz do sentir vertical
o peça obliqua contorcida de um prazer  gritante...
..."cabelos em desalinho"...


.....

Loucura....



Pássaros da alma trazem na boca
pedaços de sol  fazendo  raiar o dia ...
Ilumina-se a terra , o céu , o infinito
e os olhos que cruzam os caminhos...

São esse olhos guardados na alma
que falam e respiram  silêncios cruzados,
nas bocas caladas, nos temores escondidos,
na angustia contida, nos sorrisos esforçados...

Ah!...Esse sorriso,...esse sorriso
de quem passa ao longe desentendido
desatento, quase fingido.....

Solto os cabelos ao rio das lágrimas
transformado num imenso  mar de saudade.
E a luz trazida pelos pássaros não a apaga
e a noite sem lua, num manto escuro a eterniza....

.....

Porque...

Porque.... 


Porque nunca houve paixôes proibidas,
amores proibidos ou outros tantos gostares...
Talvez impossíveis,...nunca proibidos... 
Que ninguém me impeça de transportar
amor, paixão , ou compaixão ...
ou esta loucura de gostar de gostar
de sentir o infinito,
de transbordar de paixão,
de sentir porque sinto...
de imaginar porque sonho ...
e levar comigo o sorriso cúmplice
de quem sente e sonha o mesmo... 



...

SE A LUA FALASSE....








Se a lua falasse....

Ah! Se a lua falasse...
Ela que me escuta,
me ampara as estrelas
que me escorrem do olhar...
e inspiram o seu silencioso voo...
Ela que me abraça
na luz friade inverno
me aqueçe e me afaga
embalando meus sonhos de verão...

Ah! Se a lua falasse....
Ela que me acolhe o pensar
na sua luz de singelas verdades
que me arrepiam o sentir...
Ela que me coloca no limbo
das incertezas vividas
e me mostra o caminho
da paciência atropelada
do meu silenciar....

Ah! Se a lua falasse.....
Ela diria de mim ..
O que não sei ,
e que não digo de mim....

Ah ! Se a lua falasse.....



....

Brincando com o Tempo....




... Brincando com o Tempo ...





Abraço-te no tempo,
roubo-te um beijo 
  como quem pede o tempo que anseia.


O tempo de agora
é um outro tempo
que o tempo que passa não permite ter tempo.


   É agora tempo de amar...
beijar, rir, gargalhar,
inventar e sonhar...


Noutro tempo...
Que não era o meu tempo...
Nesse outro tempo não era eu...


Na intersecção de dois tempos...
Era Silêncio o meu tempo !


...

SILÊNCIO...







 


Silêncio



Encerrando o ruído,um cortinado de brumas 
esvoaçando nas intermitências da brisa
a despertar conversas surdas na folhagem..

O murmurar do rio cavalgando os seixos..
O desafio do mar enrolando-se na estival madrugada...
Gotas de chuva caindo incertas na calçada...
O roçar do vento na terra solta...
O fogo imaginário crepitando feiticeiro
Estrelas inspirando o voo da lua...
A reconstrução da beleza no reenconrtar do mundo....

Ah! O silêncio!...
O silêncio que tudo faz rasgando as páginas do tempo
como abalo sísmico da alma.

Escutando o si lêncio...
Escuto-me!
E eu especialista de ausências e de silêncios...
escuto a tua sombra!

.....



IDENTIDADE ...



Quantas vezes... brigando com o tempo nos encontramos...



IDENTIDADE

Briguei com o tempo,
escondendo mazelas
dentro da minha composta aparência...
Sou tão mais parecida
com quem se apresenta ser distante...
e revelo-me mais humana
aquando me visto de silêncios.

Partilho este segredo
surpreendida em flagrante delito
de ser eu mesma:
Não sou pessoa única,
antes uma multiplicidade
não sei se de almas ,
se de rostos facetados...
uma identidade única
na diversidade interior que me pertence.

Não me matem o espaço
entre a máscara e o rosto
onde a voz é eco
e a palavra esquecida!



(de mim)

Resta-me....






Resta.me o perfume de um nome,
e um não sei quê de um olhar
que me resplandece a mente.

Resta-me a memória de uma caricia,
um madrugar singelo de pele contra pele
que a noite escorrida no tempo amornou.

Resta-me  a saudade  de uma mão,
um toque quase nostálgico de presença
que me avive as horas translucidas do dia.

Resta-me um quase nada do tudo....
Resta.me teimosamente escrever
palavras que lutam e não sejam silêncio.

....





O que ficou....













Despes-me  com o olhar
a veste que o tempo
me gravou os anos..

Descalça de desejo,
inibida de vontades,
estremecida de medos,
escondi-me,
sufoquei ,
ri, chorei, perdi-me
e perdi !






....A porta só encostada...






....A porta só encostada..

Espreito na distancia que nos separa
a imaginação fértil do  teu pensar
Vivencio olhares, carinhos trocados,
relembro palavras , misturo sorrisos
furto silêncios , os nossos,
 roubo memórias,
 palmilho estradas que a noite alumiou
sentada a teu lado,
 te olhos nos olhos dizendo verdades,
as minhas ,as tuas
 as que o tempo eterniza...
São nossas!
Seremos sempre assim....
apaixonados eternos
do poema que somos


 .....

ENCONTREI -TE...








Encontrei-te ...

numa qualquer esquina que o tempo parou.

Vi o teu lento caminhar

sobre o asfalto quente da cidade trazendo nas

mãos o calor que me enleou a cintura

como o laço de cor vermelha que selava

a carta que ficara por escrever

Depositei no teu olhar

os olhos da ínquietude dos olhos meus,

demos as mão no tempo que jurámos ser para sempre

e sentados no mesmo banco da tarde

onde desfiz o laço da carta, escrevemos com timidez

as letras de cor vermelha com a cor das palavras.

Depois,

deixaste o lento caminhar que as palavras

acabaram por calar, e no final de um dia

que o tempo dobrou , o vento levou o quente

do asfalto que os meus olhos molharam

deixando o frio que me levou pela cintura.

QUIS DIZER-TE....





QUIS DIZER-TE....

Quis dizer-te
mais do que sabia,
um pouco mais do que sentia.
Talvez o que nunca disse,
ou só apenas o que já sabias.
Fui buscar palavras simples,
transparências adivinhadas,
as mais puras que encontrei.
E com o sereno anseio
de um silêncio amável
com o sonhar dos meus versos,
dei-tas ao crepúsculo do tempo
como água pura aos teus lábios .
E tu ,
de sabedoria estranha,
olhaste-me com olhos cegos
tão mortais de riso e ironia
tão mudos em cúmplice abandono
que regresso envergonhada
de ter querido dizer
o que nem sequer escutaste.


....

UMA DESPEDIDA .



UMA DESPEDIDA

Frente a frente, num perscrutar de olhares,
e na troca de sorrisos que a distância afasta,
fecham-se na boca as palavras cerradas                                  
Como quem cala o que sente, e não diz.

Desfraldam-se ao vento os sentimentos
trémulos, a transbordar nas lágrimas contidas,
atropelando o sorriso, que as gargalhadas
cruzadas, inaudíveis tornam, as palavras.

E como quem pressente o chegar da saudade,
entrelaça as mãos nas mãos que se estendem,
e prende entre garras o tempo que se escoa.

E naquele instante único, já sem tempo,
diluem-se os olhares, fundem-se os sorrisos,
e surge o último gesto inteiro ,o abraço de quem parte.



....

Esta manhã...




O ar entrou-me ás cambalhotas
 pela janela dentro..
As árvores lavantaram as vozes 
da conversa até então sussurrada...
As pétalas das flores tremiam delicadas,
resistindo a tiritar ao frio..
  E a terra   abrindo as goelas secas
uivou sibilante arrepiada...
Era...
Era só o vento que acordava amuado
e se espreguiçava sem respeito nem piedade!




Grito...








Queria  escrever todas as palavras,
gritar todos os sentimentos contidos
chorar tudo de um só vez... e tudo!!
Libertar-me, encontrar-me  fugindo .
Já nem sei de quê ou porque razão...
Fujo  de mim mesmo, da minha sombra ,
do que sou , do que fui e não quero ser...
corro  frente a esta angustia cravada
num olhar que se perde no infinito de mim.
Olhar que não vê, ou não quer ver
que o mundo não é o que sonho 
mas tão somente o que pode ser:
Vazio, escuro ,  frio de sentires
 e afectos, ausente, distante e calado
que me silencia de um só golpe
a mina alma  por si mesma tão pesada.



De novo o cansaço.....







Sentir é uma maçada.....
O que tenho é sobretudo cansaço.
Se não é cansaço o que sinto
é o desassossego gémeo do cansaço.
É de compreender que me canso..
que quando vivo não penso.



Luar de Outono

                                         




( luar do meu jardim)




Era noite escura de Outono
dobrada pelas esquinas das ruas molhadas
abafada nos passos quebrados 
a compasso do tempo..
um tempo que era nosso inteiro-

À sombra da lua 
trocamos olhares sem distancia,
demos as mãos ás estrelas 
dos sentimentos em nós calados ,
suspendemos o respirar na fragrância fria 
do ar aveludado que nos beijava.

Caricia seda a tua pele na minha,
ardente o desejo esculpido no abraço
trémulo, fragilmente apertado,  quase doce  
que a noite orvalhada e densa  separou
para de novo,   ficarmos sós!...




UM VULTO .















Entras por aquela porta
trazendo na boca o silencio.

Com passos desprendidos
largas as chaves da alma
no primeiro lugar que encontras.

E penduras o sorriso
no cabide da ausência. 





MULHER









Lúcida de pensamento, inspiração ou razão,
respiração de palavras ,ou tão somente ilusão?

Tu ,…
que levantas os olhos e te apoquentas
te dissipas por entre as ranhuras harmónicas
deste teu estar por dentro turbulento,
 que vês no horizonte negro desta noite escura,
pálidas luas  reflectindo cintilantes
as plumagens d`ave que se abrem brancas…
 Tu que para além das nuvens o olhar enxergas.

Tu,…
que encerras em ti todas as fases da lua,
ora cheia , grávida de sonhos ,desejos e luz,
que de incandescente se esvai no minguar
de um quarto,   te ocultas  da memória  do mundo
e  cresces lenta esforçada e continua ,
com os ângulos aguçados doloridos,
a rasgar as trevas que só as estrelas iluminam. ..


Lúcida, branca alada, tu, a mulher de preto levantada
Criança adormecida , que de silencio branco se alimenta.



(De mim ....em silencio)



Contrastes....

























O tempo abriu  como um girassol.

Suponho ter dito o essencial!
 E tanto ficou por escrever.
Afinal,...  quase tudo...
 Tudo, o que as palavras não ditam.
 Se por ventura algo ficou por dizer,
ou em algo me excedi,
foi por mero tropeção na consciência
sem consciente  intenção.
Quisera tudo  dizer, ... não disse?
 Só a razão sabe
A razão porque o não fiz.

Apesar de nítido, o olhar do girassol
( que Pessoa lhe atribui)..
Não olho de lá para cá...
Sigo o sol  das minha luas .
São quatro, dizem....
 São  muito mais ...
 E   neste entardecer,
 longo e quente que se arrasta ,
  olho os montes por detrás da vidraças
 como o girassol  ao  tempo,
  como   criança inocente,

  ondulante, ...
 aos  contrastes  que o tempo traz.



Escrevo-te...

Escrevo-te cansada
na palma da mão
com a tinta escorrida,  ainda quente
deste final de verão.

Escrevo-te sedenta                                
neste olhar de ilusão
com a lágrima  molhada,  escorrida
de um sorriso em  vão

Escrevo-te pedinte
nos lábios entreabertos
suplicando  o beijo,oh, quantos beijos
que outora então me deste

 E escrevo-te ao rubro
na minha  a tua pele
onde me sinto e em ti me perco
sem mapa e sem guião.

O desmaiar da luz...






A luz desmaia no silenciar do dia.
E eu, caminhante exausta do crepúsculo,
Só te vejo a ti no  horizonte que me ofusca,
Mas não te encontro na minha mão ávida e vazia.

É já tão velho o sonho de agora,
Tão vivas as lágrimas que me rolam dolorosas,
Tão cravados e fundos os espinhos das rosas...
Rosas brancas aladas como o meu sentir de outrora.

Soubesses tu deste meu pensar desenhado.
Deste meu deambular descalça na noite escura,
Vias tão somente o meu rosto mutilado,

De tanta saudade louca de amargura .
E tantos foram os caminhos palmilhados 
Que tudo ou nada, é morrer em mim enclausurada!







Roger Whittaker - Mexican Whistle

Se tu soubesses....






Abracei-te no escuro da noite
sob as acácias floridas
Era quente o teu corpo, o teu pulsar
e supendi o respirar para te sentir

Caíram-me lágrimas da alma sorrindo
orvalhada de desejo tremido aprisionado,
aconcheguei-te o sentir, toquei-te sem nada,
procurei nos meus braços sentir-te em mim

Ah, se tu soubesses , ou tão só adivinhasses
que desfazendo o abraço louco que te dava
era só saudade exausta o que me deixavas.
Ah , se tu soubesses quanto pensar em ti chorei
quanto chamei por ti sem te encontrar
quanta ausência me deixaste no meu leito.

Desembaraçando-te do meu abraço,
olhaste em volta , para onde não sei,
mas sei que não foi por mim que chamaste,
quando indelével o beijo em teu rosto posei.

E vi-te partir envolto no escuro da noite
acenei-te de longe o gesto da despedida
sorriste nas lágrimas que me caíam
a noite encobria que eram por ti que rolavam.


 ---

Se eu pudesse...



Se eu pudesse....



Ah.. se eu pudesse…
Abrir-me em dois e ser um só
dividir o mundo a meio e escolher um
 poder dizer não e nunca mais.

Ah, se eu pudesse…
Voar mais longe ainda e  não voltar
não explicar  porquê ou porque não
seguir em frente  e não olhar p´ra trás.

Se ao menos  eu  pudesse…chorar,  
sem  ninguém me perguntar
porque choro as  lágrimas que verto
por te saber   tão  longe e não  te ter,

não abraçava contra o  peito o meu sofrer,
 não ficava presa  neste estar distante …
 ia , por onde não sei, até em mim te ter.

---

Seja...




"Seja qual fôr o caminho que eu escolher um poeta já passou por ele antes de mim"
S. Freud





Não me sonhem,
nem me cantem
o  que não sou.
Porque o que sou não mostro,
e o que mostro não sou eu.


Sou  muito menos  do que quero
E muito mais  do que não quero.
O que quero, eu sei
O que não quero, também.
Só não sei se  o que  quero ,digo querer
ou se não digo o que não quero


E desta certeza incerta
que é a incerteza  de tudo,
fico-me pela certa
na dúvida que me cerca
de ser só  eu quem se  confessa.


Mas vou, porque só posso ir.
Se me dessem a escolher,
ficava aqui,
onde sei  que o tempo pára
num tempo que me não mata.


 Se quisesse ir mais alem,
onde não sei mas imagino,
só sei que  me  prendiam
de tão  loucas e verdadeiras
tantas  ideias   que tenho.


E para ser mais concisa
no que tenho para dizer,
vou inventando versos
poemas, estrofes e tanta prosa
com que disfarço o que sinto.


E  agora ,  me desculpem,....
não digo mais...!!!
Calei-me !
Porque hoje falei demais.
Ou terá sido o contrário???
Seja…!



Lapis na Areia




“Lápis na areia” 


Um a um ,foram caindo
das mãos do pintor,
...os lápis.

Cada cor um sentimento:
 Amor,  Ciúme,  Amizade
 Alegria,  Inveja,  Vaidade
 Sucesso,  Cólera, Orgulho
e por fim... toda  a Loucura …

Na areia jaziam
cansados das tarefas,
...os lápis

Num infinito espanto
de criança curiosa,
a voz sumida….
- Que pintas?

O olhar parado no nada à sua frente,
lágrimas de encanto molhando o sorriso,
de pé, num gesto largo e abrangente,
respondeu:

- A cor do vento!

...EM BRANCO....



...EM BRANCO



Não sei explicar

  a flor branca que  deixaste  

no parapeito da noite  

 a rasgar  o  sentimento que revejo.

O ficar, é silencio escuro...

 Partiste


      A noite debruçou-se

na pegada branca  que ficou
na sombra do caminho
da súbita partida

 escurecendo a luz  da madrugada...
Fiquei.



 Pendurei-me no olhar

  luminoso  de um sorriso

 seguindo-te e os passos

nas pétalas brancas

 sem destino  caídas  no caminho...

Permaneci.


Na urgência de sentir

 as mãos  tocam-se,

arde  a vela branca

na  flor desfolhada

 que  os dedos da  noite orvalharam...

Adormeci.





Tu...





Caminhavas de costas correndo a passos largos
do imperceptível olhar que em ti pousava.
Olhando-te em surdina ,não escutavas nem sentias
que era por ti que chamava , te suplicava o voltar.

Tão distante , no tão absorto egoísmo de ti mesmo
que na volta do teu corpo, tão ausente do momento
tão inconsciente do meu sentir, nem deste conta
que era ainda amor o que sentia.

Olhaste-me olhos nos olhos sem sentimento
falaste sem apego a dois metros de distancia
e nem te deste conta que era um mar de esperança

o que alimentava este ver-te longe sem estar perto
este estar perdida descontente de noites sem luar
esperando a estrela de um único momento teu iluminado.






MOMENTOS...









Deixo-me embalar na fragrância dos sonhos
  e visto-me, a sorrir,  de  silêncios…

Momentos  há de peito fechado.

O escrever custa…..!!

Dispo-me de palavras ,
 de mim e de ti
Só o silencio !.

Escuto o  momento sussurrado:
vou-te buscar,
vem comigo.!
Vou na brisa do vento...
Vou a qualquer lugar!