Grito...








Queria  escrever todas as palavras,
gritar todos os sentimentos contidos
chorar tudo de um só vez... e tudo!!
Libertar-me, encontrar-me  fugindo .
Já nem sei de quê ou porque razão...
Fujo  de mim mesmo, da minha sombra ,
do que sou , do que fui e não quero ser...
corro  frente a esta angustia cravada
num olhar que se perde no infinito de mim.
Olhar que não vê, ou não quer ver
que o mundo não é o que sonho 
mas tão somente o que pode ser:
Vazio, escuro ,  frio de sentires
 e afectos, ausente, distante e calado
que me silencia de um só golpe
a mina alma  por si mesma tão pesada.



De novo o cansaço.....







Sentir é uma maçada.....
O que tenho é sobretudo cansaço.
Se não é cansaço o que sinto
é o desassossego gémeo do cansaço.
É de compreender que me canso..
que quando vivo não penso.



Luar de Outono

                                         




( luar do meu jardim)




Era noite escura de Outono
dobrada pelas esquinas das ruas molhadas
abafada nos passos quebrados 
a compasso do tempo..
um tempo que era nosso inteiro-

À sombra da lua 
trocamos olhares sem distancia,
demos as mãos ás estrelas 
dos sentimentos em nós calados ,
suspendemos o respirar na fragrância fria 
do ar aveludado que nos beijava.

Caricia seda a tua pele na minha,
ardente o desejo esculpido no abraço
trémulo, fragilmente apertado,  quase doce  
que a noite orvalhada e densa  separou
para de novo,   ficarmos sós!...




UM VULTO .















Entras por aquela porta
trazendo na boca o silencio.

Com passos desprendidos
largas as chaves da alma
no primeiro lugar que encontras.

E penduras o sorriso
no cabide da ausência. 





MULHER









Lúcida de pensamento, inspiração ou razão,
respiração de palavras ,ou tão somente ilusão?

Tu ,…
que levantas os olhos e te apoquentas
te dissipas por entre as ranhuras harmónicas
deste teu estar por dentro turbulento,
 que vês no horizonte negro desta noite escura,
pálidas luas  reflectindo cintilantes
as plumagens d`ave que se abrem brancas…
 Tu que para além das nuvens o olhar enxergas.

Tu,…
que encerras em ti todas as fases da lua,
ora cheia , grávida de sonhos ,desejos e luz,
que de incandescente se esvai no minguar
de um quarto,   te ocultas  da memória  do mundo
e  cresces lenta esforçada e continua ,
com os ângulos aguçados doloridos,
a rasgar as trevas que só as estrelas iluminam. ..


Lúcida, branca alada, tu, a mulher de preto levantada
Criança adormecida , que de silencio branco se alimenta.



(De mim ....em silencio)



Contrastes....

























O tempo abriu  como um girassol.

Suponho ter dito o essencial!
 E tanto ficou por escrever.
Afinal,...  quase tudo...
 Tudo, o que as palavras não ditam.
 Se por ventura algo ficou por dizer,
ou em algo me excedi,
foi por mero tropeção na consciência
sem consciente  intenção.
Quisera tudo  dizer, ... não disse?
 Só a razão sabe
A razão porque o não fiz.

Apesar de nítido, o olhar do girassol
( que Pessoa lhe atribui)..
Não olho de lá para cá...
Sigo o sol  das minha luas .
São quatro, dizem....
 São  muito mais ...
 E   neste entardecer,
 longo e quente que se arrasta ,
  olho os montes por detrás da vidraças
 como o girassol  ao  tempo,
  como   criança inocente,

  ondulante, ...
 aos  contrastes  que o tempo traz.



Escrevo-te...

Escrevo-te cansada
na palma da mão
com a tinta escorrida,  ainda quente
deste final de verão.

Escrevo-te sedenta                                
neste olhar de ilusão
com a lágrima  molhada,  escorrida
de um sorriso em  vão

Escrevo-te pedinte
nos lábios entreabertos
suplicando  o beijo,oh, quantos beijos
que outora então me deste

 E escrevo-te ao rubro
na minha  a tua pele
onde me sinto e em ti me perco
sem mapa e sem guião.

O desmaiar da luz...






A luz desmaia no silenciar do dia.
E eu, caminhante exausta do crepúsculo,
Só te vejo a ti no  horizonte que me ofusca,
Mas não te encontro na minha mão ávida e vazia.

É já tão velho o sonho de agora,
Tão vivas as lágrimas que me rolam dolorosas,
Tão cravados e fundos os espinhos das rosas...
Rosas brancas aladas como o meu sentir de outrora.

Soubesses tu deste meu pensar desenhado.
Deste meu deambular descalça na noite escura,
Vias tão somente o meu rosto mutilado,

De tanta saudade louca de amargura .
E tantos foram os caminhos palmilhados 
Que tudo ou nada, é morrer em mim enclausurada!







Roger Whittaker - Mexican Whistle

Se tu soubesses....






Abracei-te no escuro da noite
sob as acácias floridas
Era quente o teu corpo, o teu pulsar
e supendi o respirar para te sentir

Caíram-me lágrimas da alma sorrindo
orvalhada de desejo tremido aprisionado,
aconcheguei-te o sentir, toquei-te sem nada,
procurei nos meus braços sentir-te em mim

Ah, se tu soubesses , ou tão só adivinhasses
que desfazendo o abraço louco que te dava
era só saudade exausta o que me deixavas.
Ah , se tu soubesses quanto pensar em ti chorei
quanto chamei por ti sem te encontrar
quanta ausência me deixaste no meu leito.

Desembaraçando-te do meu abraço,
olhaste em volta , para onde não sei,
mas sei que não foi por mim que chamaste,
quando indelével o beijo em teu rosto posei.

E vi-te partir envolto no escuro da noite
acenei-te de longe o gesto da despedida
sorriste nas lágrimas que me caíam
a noite encobria que eram por ti que rolavam.


 ---

Se eu pudesse...



Se eu pudesse....



Ah.. se eu pudesse…
Abrir-me em dois e ser um só
dividir o mundo a meio e escolher um
 poder dizer não e nunca mais.

Ah, se eu pudesse…
Voar mais longe ainda e  não voltar
não explicar  porquê ou porque não
seguir em frente  e não olhar p´ra trás.

Se ao menos  eu  pudesse…chorar,  
sem  ninguém me perguntar
porque choro as  lágrimas que verto
por te saber   tão  longe e não  te ter,

não abraçava contra o  peito o meu sofrer,
 não ficava presa  neste estar distante …
 ia , por onde não sei, até em mim te ter.

---

Seja...




"Seja qual fôr o caminho que eu escolher um poeta já passou por ele antes de mim"
S. Freud





Não me sonhem,
nem me cantem
o  que não sou.
Porque o que sou não mostro,
e o que mostro não sou eu.


Sou  muito menos  do que quero
E muito mais  do que não quero.
O que quero, eu sei
O que não quero, também.
Só não sei se  o que  quero ,digo querer
ou se não digo o que não quero


E desta certeza incerta
que é a incerteza  de tudo,
fico-me pela certa
na dúvida que me cerca
de ser só  eu quem se  confessa.


Mas vou, porque só posso ir.
Se me dessem a escolher,
ficava aqui,
onde sei  que o tempo pára
num tempo que me não mata.


 Se quisesse ir mais alem,
onde não sei mas imagino,
só sei que  me  prendiam
de tão  loucas e verdadeiras
tantas  ideias   que tenho.


E para ser mais concisa
no que tenho para dizer,
vou inventando versos
poemas, estrofes e tanta prosa
com que disfarço o que sinto.


E  agora ,  me desculpem,....
não digo mais...!!!
Calei-me !
Porque hoje falei demais.
Ou terá sido o contrário???
Seja…!



Lapis na Areia




“Lápis na areia” 


Um a um ,foram caindo
das mãos do pintor,
...os lápis.

Cada cor um sentimento:
 Amor,  Ciúme,  Amizade
 Alegria,  Inveja,  Vaidade
 Sucesso,  Cólera, Orgulho
e por fim... toda  a Loucura …

Na areia jaziam
cansados das tarefas,
...os lápis

Num infinito espanto
de criança curiosa,
a voz sumida….
- Que pintas?

O olhar parado no nada à sua frente,
lágrimas de encanto molhando o sorriso,
de pé, num gesto largo e abrangente,
respondeu:

- A cor do vento!

...EM BRANCO....



...EM BRANCO



Não sei explicar

  a flor branca que  deixaste  

no parapeito da noite  

 a rasgar  o  sentimento que revejo.

O ficar, é silencio escuro...

 Partiste


      A noite debruçou-se

na pegada branca  que ficou
na sombra do caminho
da súbita partida

 escurecendo a luz  da madrugada...
Fiquei.



 Pendurei-me no olhar

  luminoso  de um sorriso

 seguindo-te e os passos

nas pétalas brancas

 sem destino  caídas  no caminho...

Permaneci.


Na urgência de sentir

 as mãos  tocam-se,

arde  a vela branca

na  flor desfolhada

 que  os dedos da  noite orvalharam...

Adormeci.





Tu...





Caminhavas de costas correndo a passos largos
do imperceptível olhar que em ti pousava.
Olhando-te em surdina ,não escutavas nem sentias
que era por ti que chamava , te suplicava o voltar.

Tão distante , no tão absorto egoísmo de ti mesmo
que na volta do teu corpo, tão ausente do momento
tão inconsciente do meu sentir, nem deste conta
que era ainda amor o que sentia.

Olhaste-me olhos nos olhos sem sentimento
falaste sem apego a dois metros de distancia
e nem te deste conta que era um mar de esperança

o que alimentava este ver-te longe sem estar perto
este estar perdida descontente de noites sem luar
esperando a estrela de um único momento teu iluminado.






MOMENTOS...









Deixo-me embalar na fragrância dos sonhos
  e visto-me, a sorrir,  de  silêncios…

Momentos  há de peito fechado.

O escrever custa…..!!

Dispo-me de palavras ,
 de mim e de ti
Só o silencio !.

Escuto o  momento sussurrado:
vou-te buscar,
vem comigo.!
Vou na brisa do vento...
Vou a qualquer lugar!


Com Olhos Verdes






Onde o sol nasce quando aqui se deita,
caminho com a infinita bebedeira
na linha do horizonte deitada,
na vertical do verbo que a levanta.
Beijo a terra que os homens sangram
com ar de sonhadora de moinhos .

Há dias de vento e estrelas frias,
límpidos, onde o olhar são pontes
instáveis , movediças , levantadas,
fechadas, ou abertas a um infinito
onde não há memória
na memória dos meus olhos tristes..

Há dias de silencio branco e papel
onde a ausência do gesto e da escrita
são a distancia de mim, em mim perdida.
Encontro na pegada dos passos percorridos
A sombra do sorriso que deixei ficar
a iluminar o rosto que desenhei a tinta

E há o verde nas montanhas
E as madrugadas de sol poente.
E há uma gota de água sobre o papel,
a perspicácia dos sentidos que prolonga
a melodia que sustento, a lucidez clara,
de querer olhar com olhos verdes,
a brecha escura, que o tempo adivinha.



CHOVE DESDE A MADRUGADA ...


 Chove desde a  madrugada
 um tempo angustiado.
 No peito,
 o peso das palavras abandonadas
 escorrem salgadas    
.
Molho de chuva  as gotas deste pensar
Lume acesso que queima
a  bruma do olhar ausente,
 que de  longe  vigia e espreita
a  espera que  amadurece
a razão sem razão dos sentidos.

 Alma  que  anda sem andar,
Poisa-se no compasso da pausa,
 trilha  incerta os caminhos inseguros,
 e estremece de tão frágil..

Que em braços  de paixão se  levante,
 desta  terra molhada, onde se deita
Porque de incertezas se  faz
Este  caminhar na sombra descoberta.



Saudades do frio




  Saudades das noites de frio 
 das noites geladas frente a frente, 
daquelas em que sentada à lareira de copo na mão
tagarelava escrevendo sorrisos , beijando letras
e mão na mão contávamos o passar dos segundos
escrevendo poemas de luz à desgarrada...
E eu, deixava-me levar enlaçada no teu abraço
sorrindo ás estrelas que rompiam por entre temporais
não sei se de chuva  ou  só  de vento...
ou se eram lágrimas do meu chorar.
E agora, que  o tempo aqueceu
e as estrelas são o nosso tecto comum,
haverá  noites ainda em que olharemos ambos
o mesmo céu a mesma lua de sorrisos
e saibamos cantar ainda o que os dias nos levaram?

Nada se perdeu!
Tudo esta presente em mim
gravado em sentimentos nascidos no frio
amadurecidos no tempo de agora
uma espera , sem retorno de um gesto que seja
que me ilumine o sorriso.



Lá, onde o sol brilha

Haviam gaivotas em terra
e o mar revolto  cor de lama 
quebrava-se embrutecido  contra as pedras
beijando-me os pés lívidos da alma.
Chovia no vento,
 chovia na areia da mente
e por entre gotas de um pensar ausente
despi-me das vestes molhadas de penas.
Mão  e corpo nus
agarrei  o indeciso  bater de asas
da gaivota desesperada em terra
 voamos   ambas , eu e ela
bebendo o infinito mar e céu azul
lá,  onde o nada é longe
e só o sol brilha.

Olho-te de longe

Porque calei em mim todas as palavras
no meu peito enraivecido de silêncios.
Porque era lindo o meu esperar
dum balbuciar simples dos teu lábios
dum sentimento  por ti já tão esquecido.

E no teu estar aberto ao mundo
de costas voltadas para a minha angústia sofrida,
davas as mãos ao teus amores vividos
e eu via-te de longe esmorecida.

Pudera eu  apagar da memória
este estar desolado do meu chorar  de alma,
este querer-te não querendo desejando-te
quando o teu olhar sobre  todos os olhares
ia esquecendo a cor triste, chorada  dos meus olhos.

Esperei-te






Espreitei-te em cada canto do jardim,
esperei-te em cada esquina florida.

 Nas sombras ,  o vazio ambulante.
 Passos  que ecoavam  tão longe,
o rachar da lenha tão distante                                                       
e o silencio a marcar as horas
a compasso do estiar do tempo.

Como te esperei, amor...
e nos teus olhos rasgados , um deserto
 onde   me calaste o olhar e o canto.



Palavras....



















Palavras não digo
que me sabe a amargo esta vergonha

Crescem-me nos lábios                                                              
como gretas sangrantes
 palavras que as lágrimas não diluem...

e... mordo como louca
este silencio escuro.



.

Quisera ....






















Quisera  ter-te aqui
entre um pestanejar e outro...
Breve o instante
que de tão curto
se fez enorme no meu pranto ..


.

Desassossego




Há sulcos na terra,
gretas abertas,
fundos escuros
sangrentos de raiva




Agua fosse
o meu olhar sedento.

Primavera quase verão....

Desassossego
este mar de silencio
espuma branca
salgada no meu peito.



Abraço adiado....















Foi  nesse café beira esquina
adoçando o café esquecido sobre a mesa
o olhar  perdido  entre as gentes...
 movimento  ausente,  sonhador
das mãos que mexem e remexam
com pau de canela entre os dedos
o sonho que o olhar desprendeu
e cativo ficou no meu

E foi entre fumaças  brancas
nesse nevoeiro denso de ruídos 
que despertei  para a madrugada
mergulhado no teu olhar..
quase um sorriso ...embrulhado
em papel de seda estampado
de imperceptível solidão..
e o elevei  ao peitoril da minha saudade.



Feminino...





Há numa flor
pétalas de seda abertas ao mundo
pétalas recolhidas de vergonha
outras resguardando de pudor
o seu cerne mais sensível

Há numa flor
encanto supremo no desabrochar
magia mistério no desfolhar
respeito quase divino no declinar.
Mulher inteira em poema esculpida!


Vertices de um sorriso




 Também eu
olhei o sol de frente, quase ceguei
também eu
sorri chorando no seu sorriso
fechando as pálpebras de prazer

Ameaçou sorrir
e liberto das grilhetas de chumbo
dançou descontraído
na serenidade do ar que fazia
abraçando a diáfana cor do dia

Toldou-se depois de lágrimas
Toldei-me como o tempo

 Ah!...,este tempo triste
esta anarquia sem começo de ordem

Também eu
chutei a felicidade e me enganei...
Não era chutando
não era agarrando
amar bastava
para a reter em mim

E ainda
os acessórios 
a roupagem , a máscara
encobrindo o eu,...o nós
 e sempre nós
para além do além
sós em nós

E ainda 
a angústia desse teu olhar franzido
por detrás do oceano que o esconde

Fosse eu feiticeira
descobrindo segredos....

Também eu ...
sorria.

 

Talvez




Porque hoje chorei
 e me comovi
porque talvez

talvez Neruda me tenha emprestado do poema
 a estrofe da vida que não vivi
o verso da noite que não passou de um sonho 
a carta de amor aberta tantos anos passados

talvez..porque
o dia sorrio estranho no meu sorriso
  deixando partir um pouco de mim
no raio de luz que passou perto ...
não me atravessou nem tocou
me contornou e partiu.

talvez porque
talvez
eu fosse invisível de matéria
astro
  éter   
e  nada.