Vertices de um sorriso




 Também eu
olhei o sol de frente, quase ceguei
também eu
sorri chorando no seu sorriso
fechando as pálpebras de prazer

Ameaçou sorrir
e liberto das grilhetas de chumbo
dançou descontraído
na serenidade do ar que fazia
abraçando a diáfana cor do dia

Toldou-se depois de lágrimas
Toldei-me como o tempo

 Ah!...,este tempo triste
esta anarquia sem começo de ordem

Também eu
chutei a felicidade e me enganei...
Não era chutando
não era agarrando
amar bastava
para a reter em mim

E ainda
os acessórios 
a roupagem , a máscara
encobrindo o eu,...o nós
 e sempre nós
para além do além
sós em nós

E ainda 
a angústia desse teu olhar franzido
por detrás do oceano que o esconde

Fosse eu feiticeira
descobrindo segredos....

Também eu ...
sorria.

 

Talvez




Porque hoje chorei
 e me comovi
porque talvez

talvez Neruda me tenha emprestado do poema
 a estrofe da vida que não vivi
o verso da noite que não passou de um sonho 
a carta de amor aberta tantos anos passados

talvez..porque
o dia sorrio estranho no meu sorriso
  deixando partir um pouco de mim
no raio de luz que passou perto ...
não me atravessou nem tocou
me contornou e partiu.

talvez porque
talvez
eu fosse invisível de matéria
astro
  éter   
e  nada.