LÁ DE ONDE VENHO...



Lá de onde venho....chove! 

 A noite durante o dia espalha-se por toda a parte
O sentimento faz-me calar

Queria apenas renascer, recuperar o sossego, lutar contra a lágrima afundada na voz

Queria cumprir um sonho antigo,.... ir para longe de todos os lugares
Anichar-me na terra amornada de sol. 





“A viagem mais comprida é aquela que se faz para o interior de si mesmo.” (Hammarskjöld)





Demorei-me aqui, sentada às portas da memória, da qual por vezes sinto a ânsia de apagar alguns arquivos,... voltar ao estado fetal , à pagina em branco, ao início, ao fundo que está mais longe ainda que o fim ... .



Na ausência completa de ferramentas psíquicas que me permitam o acesso à execução desse acto, como criança que apaga o traço tremido da linha recta , abraço a recordação , respiro-lhe a vontade da permanência , sinto-lhe o desejo de abrigo cativo, respeito-lhe a antiguidade do lugar... 


Sobreponho às antigas imagens , as novas, como se fosse o retocar de uma pintura, o redesenhar da melodia que o tempo interrompeu, e o novo vulto reflectido ganha a dimensão de uma estrela acabada de eclodir no universo ,suspensa do cordão umbilical que o liga à vida, brilhando trémula com a luz imemorial da certeza, que a permanente inconstância é , e será sempre constante.


Um pendular recriado entre passado e presente, tecido nas margens cósmicas do movimento perpétuo da memória que não pode ser apagada , mas apenas revivida nas páginas por desenhar que se emprestam ao sonho, fazendo-me lembrar que os erros, desilusões, e perdas , são a terra firme dos passos colocados no futuro, com a recriação magnífica que só o passado ensina.



Ao sabor do tempo.....


Imagens   e gestos  valem mais que mil palavras......
Mais do que letras arrumadas em  silabas, mais do que palavras desenhando poemas inventados na prosa da existência , são os olhos dos sentidos  que arquitectam o meu pensar.
Verdades, (as minhas) confrontando a mentira da vida??
Só no silêncio que fiz meu,  me encontro e entendo.





Por entre as sombras, um pouco da luz, onde tudo existe, incluindo um pedaço de mim.....na sombra....

...nos contrastes




     ....numa franja de sol ondulando na mudança das cores quentes outonais ....anunciando o frio que não tarda.

Neste lugar que fiz meu, descanso o olhar na memória que me há-de trazer a lembrança , do que em breve  deixarei de ver.


Chove...





 Por detrás da chuva  caindo "leve, levemente" escorrem sem horas, as cores deste outono mansamente molhado...
 e as horas , o tempo incessante....devorando em cada minuto uma batida de vida...




....um povoado de ausências ...

convertendo  em LUZ o  meu deserto.





Esta estranha forma de viver...










«....primeiros somos inocentes, depois vamo-nos degradando, vamos aprendendo, e depois perdemos a inocência completamente. Fazemos um esforço notável para voltarmos a ser inocentes.»