Coisas de NOVEMBRO
A MULHER DAS CASTANHAS
(De mim...)
Envolta na neblina matinal vinda do mar, já a mulher das castanhas apregoa : - Quentinhas !
Está
ali, naquela esquina do tempo, que dobro desde sempre, desta vez a
uma hora bem diferente num dia também diferente. De olhos postos
nas nuvens de fumo que se elevam dos tachos e rodopiam no ar, ela, a
mulher de cabelo apanhado num carrapito desgrenhado, mexe e remexe
com as mãos ásperas , dedos enegrecidos e unhas roídas, as
castanhas quentes nos assadores assentes na velha carripana, tão
velha , que meia empenada tomba para um dos lados, mais
parecendo cair que manter-se de pé. E lá vai apregoando, enquanto
me perco nas nuvens de fumo revoltas e densas como aquele nevoeiro em
que adormeci de cansaço nos braços do cansaço da noite. Por entre
as nuvens dou comigo a caminhar sobre os vincos e as rugas da cidade,
os vestígios que sobram dos lençois esquecidos, desfeitos num
qualquer quarto vazio onde a respiração lhes deixou o aroma da noite.
Abraço as nuvens com as ambas as mãos até as sentir coladas à pele.
Respiro por entre cada um dos seus poros e os seus olhos de água
transpiram um prazer húmido com as olheiras que me sorriem até ao
amanhecer
. A mulher das castanhas, a fazedora de nuvens que
sobem cada vez mais alto na madrugada , esquecida de mim , lá vai
ateando as brasas das cinzas esfriadas na noite passada.
-Quentinhas...
Desço degrau a degrau os socalcos das nuvens que a
permanência do tempo esfarrapou e envolta nas nuvens densas de fumo
que se erguem ao meu lado carregadas de aroma a castanhas novas
acabadas de estalar ao calor das brasas, desço a escadaria para voltar
a pisar os vincos e as rugas da calçada da cidade . Longe, o som
da voz da fazedora de nuvens, continua: -Quentinhas.
Rochedo
Jovial , como um dia acabado de nascer..
Algures uma melodia matinal,
acordes de um cântico interior
caminhando leve, transportado pelos ares
numa cadência languida de um sorriso gasto.....
Quando a encosta da alma se escarpa
e a vegetação do sentir escaseia.
o rochedo ergue-se nu...
quão vulnerável às intemperies do tempo
quão fràgil ao rendilhado das lagrimas...
Solitário é o caminho....
A curiosidade debate-se ferozmente
no cansaço assumido ao olhar numa imensa lassidão
com a didignidade e solenidade de um poema
que se escuta por entre as fibras da suadade.
O dia fragmentado de incerteazas...
abreviado artificialmente nas gotas de orvalho
deslizando por entre os dedos crispados de dor
manten-se erecto , nu como se continuasse
eternamente a contemplar a solidão...
(de mim)
em silencio...
Breve o Instante de um momento
Breve o instante...
o momento do poema!
Este, que contido no peito
se solta em versos quebrados .
Um só momento....
O instante breve da leitura
das mãos que escrevem...com emoção,
a ternura de um sentimento sem sentido....
Apago as cores do ar.
É a cor do vento que me traz
novas deste gostar ainda menino....
Tão confuso,... tão estranho...
que me interrogo se sonho,
ou se é ilusão o meu gostar....
E porque os há de muitas formas,
e tantas cores ....
para lhe sentir a forma,
apago as cores da minha forma de amar...
( de mim)
o momento do poema!
Este, que contido no peito
se solta em versos quebrados .
Um só momento....
O instante breve da leitura
das mãos que escrevem...com emoção,
a ternura de um sentimento sem sentido....
Apago as cores do ar.
É a cor do vento que me traz
novas deste gostar ainda menino....
Tão confuso,... tão estranho...
que me interrogo se sonho,
ou se é ilusão o meu gostar....
E porque os há de muitas formas,
e tantas cores ....
para lhe sentir a forma,
apago as cores da minha forma de amar...
( de mim)
Quase me apeteceu escrever
Quase me apeteceu escrever....
Compreendi então...
quão cerrado o mundo esquecido de mim
quão tamanhas as margens do meu rio
quão pequenos , carregados e frios
os dias desfeitos num soluço fundo
Compreendi então...
quão limpido e louco o relógio da memõria
que a compasso do vento da alma
marca os segundos da viagem
num sussuro de saudade.
Compreendi então...
o mistério do movimento perpétuo do sentir
que em forma de manha de nevoeiro
se dissipa da palma da razão
no desejo encerrado de uma mão de amor.
(de mim num anoitecer de verão)
Quando a saudade desce a escada
Quando a saudade desce as escadas.....
Quando a saudade desce as escadas,
há sempre um fogo surdo lá no fundo
e um abraço de espuma tão fria....
Quando a saudade desce as escadas,
a noite trepa a escarpa indecifrável
das cinzas que pintam de negro o dia.
Quando a saudade desce as escadas,
escrevo,....rescrevo, demoro na lentidão
do sentir embrutecido no fundo das mãos.
Quando a saudade desce as escadas
a ideia de paraíso á e cicatriz do desespero
e o poema que se eleva é apenas mais um capítulo
Enceram-se-me os olhos. solta-se-e um suspiro...
e quando a saudade desce a escadas
afogo-me no seu mar imenso , infinito...
Choro
Não sei fazer mais nada
quando a saudade desce as escadas!
A Morte
A Morte....
Pela porta entreaberta
entraste silenciosa
E deslizando sobre a penumbra chegaste perto...
Estendeste os braços
como quem quer dar colo
mas nem sequer com as mãos tocaste.
Fiz-.te frente com olhar
na distancia que nos separava...
Inquieto, indignado , surpreso,
triste talvez, o meu olhar
ou tão somente vencido..
...nem sei!!.
E tu,
rodopiando sob o teu manto negro que vi branco,
saíste cabisbaixa por onde entraste.....
Ate quando?...
(de mim....numa noite comprida )
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