Era muito cedo, noite ainda.
Ele estranhou o silêncio que nascia por entre o arvoredo denso ,
como se fosse uma sombra acompanhada de múltiplos ruídos.
A bruma , cercava-o de um branco translúcido, imaterial, quase
luminoso, tantas as gotículas suspensas e húmidas, reflectindo o brilho
das últimas estrelas que se esforçavam a atravessa-la com luz .
Enquanto metia as mão nos bolsos , e os ombros se vergavam para
diante aconchegando a nuca ao calor do casaco grosso que o cobria abaixo
dos joelhos, os olhos procuravam no ar denso de cristais , um qualquer
sinal.
Não era a primeira vez .
Há muito que sentia tentado a penetrar no seu interior
,desvendar-lhe o núcleo misterioso, como se a dança que se desdobrava em
formas abstractas , e se dissipava no ar em farrapos , o seduzisse como
um abismo.
Via-a naquele traje transparente, sedutor, enigmático no seu
silencioso esvoaçar . Sentia-a como um levíssimo peso denso sobre os
seus ombros.
Sentia-lhe o respirar, o aveludado da pele, o algodonado pairar, o
odor húmido dos lábios. e os olhos negros molhados de água ,
encerravam-se por detrás de pálpebras semi-fechadas de agua .
Ele, avançava cautelosamente sobre solo traiçoeiro que o escuro
encobria, estendendo os braços carentes à imaginação do sonho que
deambulava esquivo, na asas da aragem.
Tocou-lhe os cabelos líquidos, o corpo esvoaçante que se desfazia e
refazia em movimentos ondulantes deslizantes, formas caleidoscópicas
intermináveis sob os sentidos do olhar.
Sorriu languidamente húmida, aos primeiros raios de sol e
esquivou-se por entre as folhas que projectavam no solo pequenas sombras
trémulas. O pulsar do coração pairou por algum tempo ainda sobre as
copas das arvores , para se dissipar por completo ao canto matinal de
uma ave .
( De mim....)
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