Porque é Natal

http://www.youtube.com/watch?v=2lhQ_hBT7lA



Uma das melhores vozes de todos os tempos...acompanhando a descida do Natal sobre o Mundo....e que seja Lindo...

Queria que fosse lindo... !!!!

Um acordar





Um acordar.....
Primeiro a luz, ....o despertar de mansinho do sono. E um silencio profundo num olhar sonâmbulo   num corpo sem peso, nu de si mesmo , livre , a flutuar suspenso no vazio da memória. ….qual  folha de papel  em branco, amarrotado,  sem letras....
Depois o olhar na penumbra da claridade , o  olhar sem  fixar, vagueando  no espaço indefinido de contornos. O prazer da temperatura no grau exacto da textura da pele abandonada sobre as fibras relaxadas dos músculos, e um aroma morno a nós...
Encerro  as  pálpebras sobre as últimas letras da véspera ....
.Agora, aparecendo desfocadas a desenharem-se no desdobrar da folha enxovalhada.....






LÁ DE ONDE VENHO...



Lá de onde venho....chove! 

 A noite durante o dia espalha-se por toda a parte
O sentimento faz-me calar

Queria apenas renascer, recuperar o sossego, lutar contra a lágrima afundada na voz

Queria cumprir um sonho antigo,.... ir para longe de todos os lugares
Anichar-me na terra amornada de sol. 





“A viagem mais comprida é aquela que se faz para o interior de si mesmo.” (Hammarskjöld)





Demorei-me aqui, sentada às portas da memória, da qual por vezes sinto a ânsia de apagar alguns arquivos,... voltar ao estado fetal , à pagina em branco, ao início, ao fundo que está mais longe ainda que o fim ... .



Na ausência completa de ferramentas psíquicas que me permitam o acesso à execução desse acto, como criança que apaga o traço tremido da linha recta , abraço a recordação , respiro-lhe a vontade da permanência , sinto-lhe o desejo de abrigo cativo, respeito-lhe a antiguidade do lugar... 


Sobreponho às antigas imagens , as novas, como se fosse o retocar de uma pintura, o redesenhar da melodia que o tempo interrompeu, e o novo vulto reflectido ganha a dimensão de uma estrela acabada de eclodir no universo ,suspensa do cordão umbilical que o liga à vida, brilhando trémula com a luz imemorial da certeza, que a permanente inconstância é , e será sempre constante.


Um pendular recriado entre passado e presente, tecido nas margens cósmicas do movimento perpétuo da memória que não pode ser apagada , mas apenas revivida nas páginas por desenhar que se emprestam ao sonho, fazendo-me lembrar que os erros, desilusões, e perdas , são a terra firme dos passos colocados no futuro, com a recriação magnífica que só o passado ensina.



Ao sabor do tempo.....


Imagens   e gestos  valem mais que mil palavras......
Mais do que letras arrumadas em  silabas, mais do que palavras desenhando poemas inventados na prosa da existência , são os olhos dos sentidos  que arquitectam o meu pensar.
Verdades, (as minhas) confrontando a mentira da vida??
Só no silêncio que fiz meu,  me encontro e entendo.





Por entre as sombras, um pouco da luz, onde tudo existe, incluindo um pedaço de mim.....na sombra....

...nos contrastes




     ....numa franja de sol ondulando na mudança das cores quentes outonais ....anunciando o frio que não tarda.

Neste lugar que fiz meu, descanso o olhar na memória que me há-de trazer a lembrança , do que em breve  deixarei de ver.


Chove...





 Por detrás da chuva  caindo "leve, levemente" escorrem sem horas, as cores deste outono mansamente molhado...
 e as horas , o tempo incessante....devorando em cada minuto uma batida de vida...




....um povoado de ausências ...

convertendo  em LUZ o  meu deserto.





Esta estranha forma de viver...










«....primeiros somos inocentes, depois vamo-nos degradando, vamos aprendendo, e depois perdemos a inocência completamente. Fazemos um esforço notável para voltarmos a ser inocentes.» 




Quase um gesto de despedida...












 




 Há madrugadas assim....
 ...  no silencio que tudo faz ....



















...e  um anoitecer  imóvel
...onde  só o canto do recolher dos pássaros que por aqui poisam se escuta.



Um dia,  a recordação será  o cansaço do que  não verei,    do que o olhar sonhou, e  do que  as mãos esculpiram sob as asas de um ceu de estrelas e luas.  A regar  este lugar  confidente de silêncios ficará a voz do pranto ,  uma vida inteira.que lhe deu alma.



...e de novo o cansaço...




Estou assim....
Cansada!


Vesti-me de sois , porque só um não chegava.
calcorreei estradas, entroncamentos, desvios, atalhos ruelas
e mais ruas  de um imaginário tão denso como comprimido
que para o encontrar teria que ousar invadir um espaço 
tecido por mãos artísticas, escrito com a linguagem de poetas
avivado de cor, de todas as cores , pinceladas deixadas ao acaso das emoções momentâneas
que coloriram os  dias já passados, 
tão longínquos na memória,
que já não sei se existiram ou não,
que me encantaram, desassossegaram....
Mas não ousei!


Estanquei à porta!


Pelo caminho do tempo, que mais não foi esse, 
perdi-me nos desencontros e nas ausências,
que encontros , apenas se dão com quem sentimos o encontro
e desencontros é o que mais se encontra 
na linguagem onde a palavra é mestra mas esquecida.
Esqueci? Esqueceram?
O vinculo, o fio condutor da motivação
ficou laxo, frouxo demais 
na palavra de quem não quer expressar-se mas exige estímulo para continuar vivo,
ou  dele precisa para viver.
...E ficou o silêncio a  invadir esse espaço...


Dei-me conta que não o habito.
 Esse não é o meu espaço,... eu que sou de silêncios !
Habito o sentir da imaginação como  se estrangeira fosse
ou nem mesmo existisse.
E será que existo??
 Não serei  apenas o fruto de uma imaginação fértil
criado à da imagem do sonho...?...da ilusão?



Nunca possuímos nada nem ninguém.
Temo-nos a nós próprios...
 na imagem com que pintamos a liberdade
e libertamos-nos uns dos outros com real irresponsabilidade!
Porque é tão cómodo, e  tão fácil exigir!


Cansada, sim, ....de silêncios!


De tão cansada parto feita cinzas...
porque cinzenta estou e não sou.
Sou azul do céu em forma de asas que procura no infinito
ser mais que azul, e mais que todos os sois  de que me vesti...
para te dizer:


-Até um dia!







Um pouco de mim....







Pregada ao céu a cor da noite.
Abraço  a luz aveludada da lua
pedindo licença para dormir, descansar horas a fio sem sonhar.
A noite é de lua pálida
O desespero o limite.
Ou a loucura de deixar entrar a noite,
Ou a resistência de  a fechar ao sonho.




Lembranças


(...)


As coisas há muito foram vividas
Há no ar espaços extintos
A forma gravada em vazio
Das vozes e dos gestos que outrora aqui estavam.

E as minhas mãos não podem prender nada.


(Sophia de Mello Breyner)


Procurando......


“Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!”

Mário Quintana

...Nasceu cinzento o dia...


...esperando a luz da noite .....


"Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela."

Alberto Caeiro



...mais adiante na curva do caminho...

O infinito...
O abismo...

Eu...e Tu...nas margens do dia...

Um dia de Verão


Transparências ...

Fluem entre seixos da mente...
memórias que águas tecem num só olhar...
Tu...e Eu,
O abismo ....
O infinito....

Itálico

Horizonte da "minha serra"





Há muito, que o vejo daqui, desta serra que fiz minha. Faz tanto tempo, que quase esqueci a sensação de deslumbre do primeiro olhar.

...o cansaço...

....na mulher que há em mim










O que há em mim é sobretudo cansaço



O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...


(Álvaro de Campos)