Envolta na neblina matinal vinda do mar, já a mulher das castanhas apregoa : - Quentinhas !
Está
ali, naquela esquina do tempo, que dobro desde sempre, desta vez a
uma hora bem diferente num dia também diferente. De olhos postos
nas nuvens de fumo que se elevam dos tachos e rodopiam no ar, ela, a
mulher de cabelo apanhado num carrapito desgrenhado, mexe e remexe
com as mãos ásperas , dedos enegrecidos e unhas roídas, as
castanhas quentes nos assadores assentes na velha carripana, tão
velha , que meia empenada tomba para um dos lados, mais
parecendo cair que manter-se de pé. E lá vai apregoando, enquanto
me perco nas nuvens de fumo revoltas e densas como aquele nevoeiro em
que adormeci de cansaço nos braços do cansaço da noite. Por entre
as nuvens dou comigo a caminhar sobre os vincos e as rugas da cidade,
os vestígios que sobram dos lençois esquecidos, desfeitos num
qualquer quarto vazio onde a respiração lhes deixou o aroma da noite.
Abraço as nuvens com as ambas as mãos até as sentir coladas à pele.
Respiro por entre cada um dos seus poros e os seus olhos de água
transpiram um prazer húmido com as olheiras que me sorriem até ao
amanhecer
. A mulher das castanhas, a fazedora de nuvens que
sobem cada vez mais alto na madrugada , esquecida de mim , lá vai
ateando as brasas das cinzas esfriadas na noite passada.
-Quentinhas...
Desço degrau a degrau os socalcos das nuvens que a
permanência do tempo esfarrapou e envolta nas nuvens densas de fumo
que se erguem ao meu lado carregadas de aroma a castanhas novas
acabadas de estalar ao calor das brasas, desço a escadaria para voltar
a pisar os vincos e as rugas da calçada da cidade . Longe, o som
da voz da fazedora de nuvens, continua: -Quentinhas.
Quentinhas...
ResponderExcluirComo o aconchego da amizade!
Beijinho
António Manuel
Venho de visita pelo prazer da companhia...
ResponderExcluirGrata Carlos pela visita,,,, És sempre bem vindo, sabes disso!!
ExcluirBeijinhos muitos