UM VULTO .















Entras por aquela porta
trazendo na boca o silencio.

Com passos desprendidos
largas as chaves da alma
no primeiro lugar que encontras.

E penduras o sorriso
no cabide da ausência. 





MULHER









Lúcida de pensamento, inspiração ou razão,
respiração de palavras ,ou tão somente ilusão?

Tu ,…
que levantas os olhos e te apoquentas
te dissipas por entre as ranhuras harmónicas
deste teu estar por dentro turbulento,
 que vês no horizonte negro desta noite escura,
pálidas luas  reflectindo cintilantes
as plumagens d`ave que se abrem brancas…
 Tu que para além das nuvens o olhar enxergas.

Tu,…
que encerras em ti todas as fases da lua,
ora cheia , grávida de sonhos ,desejos e luz,
que de incandescente se esvai no minguar
de um quarto,   te ocultas  da memória  do mundo
e  cresces lenta esforçada e continua ,
com os ângulos aguçados doloridos,
a rasgar as trevas que só as estrelas iluminam. ..


Lúcida, branca alada, tu, a mulher de preto levantada
Criança adormecida , que de silencio branco se alimenta.



(De mim ....em silencio)



Contrastes....

























O tempo abriu  como um girassol.

Suponho ter dito o essencial!
 E tanto ficou por escrever.
Afinal,...  quase tudo...
 Tudo, o que as palavras não ditam.
 Se por ventura algo ficou por dizer,
ou em algo me excedi,
foi por mero tropeção na consciência
sem consciente  intenção.
Quisera tudo  dizer, ... não disse?
 Só a razão sabe
A razão porque o não fiz.

Apesar de nítido, o olhar do girassol
( que Pessoa lhe atribui)..
Não olho de lá para cá...
Sigo o sol  das minha luas .
São quatro, dizem....
 São  muito mais ...
 E   neste entardecer,
 longo e quente que se arrasta ,
  olho os montes por detrás da vidraças
 como o girassol  ao  tempo,
  como   criança inocente,

  ondulante, ...
 aos  contrastes  que o tempo traz.



Escrevo-te...

Escrevo-te cansada
na palma da mão
com a tinta escorrida,  ainda quente
deste final de verão.

Escrevo-te sedenta                                
neste olhar de ilusão
com a lágrima  molhada,  escorrida
de um sorriso em  vão

Escrevo-te pedinte
nos lábios entreabertos
suplicando  o beijo,oh, quantos beijos
que outora então me deste

 E escrevo-te ao rubro
na minha  a tua pele
onde me sinto e em ti me perco
sem mapa e sem guião.